Doença Cardíaca Terminal - Coração Mecânico

Quatrocentos mil novos casos de insuficiência cardíaca (IC) são diagnosticados nos Estados Unidos anualmente. A mortalidade em cinco anos neste grupo de pacientes é de 75% para homens e de 62% para mulheres, de acordo com Framingham Study. A terapêutica farmacológica, com introdução de drogas como inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores da aldosterona (espironolactona) e beta-bloqueadores melhorou a qualidade de vida dos pacientes, mas não prolongou a sobrevida daqueles de pior prognóstico. Os tratamentos cirúrgicos de correção dos defeitos estruturais, cirurgia de revascularização miocárdica, cardiomioplastia, cardiomioplastia celular, cirurgia de Batista, estimulação biventricular com marcapasso e a assistência circulatória mecânica são outras opções terapêutica para pacientes que aguardam transplante cardíaco.

A assistência circulatória mecânica (ACM) como "ponte" para o transplante cardíaco é viável devido aos avanços científicos e tecnológicos, principalmente nas áreas de fisiologia cardiovascular, cirurgia cardíaca, hematologia e engenharias mecânica e de materiais. A primeira utilização do coração artificial mecânico foi feita por Cooley et al em 1969. Após 15 anos de experiência os dispositivos de assistência ventricular (DAV) tornaram-se mais confiáveis, vislumbrando a idéia do seu implante por tempo indefinido o que estimulou o estudo multicêntrico REMATCH (Randomized Evaluation of Mechanical Assistance for the Treatment of Congestive Heart failure), ainda em curso. O estudo avaliará pacientes com indicação para transplante, porém sem condições para fazê-lo. Os pacientes serão selecionados aleatoriamente para um dos grupos: (1) implante do DAV em longo prazo ou (2) terapêutica farmacológica máxima.

Os dispositivos para ACM podem ser classificados quanto: ao modo de bombeamento; à localização dos dispositivos; ao tipo de acionamento; ao padrão de assistência, quanto à finalidade da aplicação (tabela 1). Recentemente, nos Estados Unidos, foi implantado um coração total artificial ortotópico em paciente portador de IC com indicação de transplante cardíaco. A cirurgia teve ampla divulgação na empresa leiga. Os resultados iniciais foram relativamente satisfatórios para DAV implantado. Em estudo publicado recentemente, Ogletree-Hughes et al demonstraram que o dispositivo de assistência ventricular esquerda reverte a "downregulation" dos receptores beta adrenérgicos restaurando a habilidade do músculo cardíaco de responder ao estímulo simpático (Circulation 2001;104:881)

No InCor-HC/FMUSP alguns tipos de DAV são desenhados e construídos, no Laboratório de Bioengenharia, sob a coordenação do Dr. Adolfo A Leirner (tabela 1). Segundo Prof. Dr. Sérgio Oliveira de Almeida "O número de pacientes aguardando transplante de coração aumenta a cada ano devido à falta de doadores adequados. Em busca de minorar este problema, inúmeros procedimentos cirúrgicos alternativos têm sido utilizados. O uso de xenotransplante (coração de não humanos) ainda é considerado experimental e o risco de xenozoonoses é uma preocupação significativa quando se pensa em transplantar corações de animais para humanos. A assistência mecânica temporária tem sido outra opção, dando-se preferência ao ventrículo esquerdo artificial. Modelos miniaturizados de assistência ventricular esquerda com fluxo contínuo axial já estão sendo testados em humanos com boas perspectivas de sucesso. No InCor-HC/FMUSP já foram implantados quatro ventrículos mecânicos como ponte para transplante. Atualmente, nosso Laboratório de Bioengenharia vem trabalhando no aperfeiçoamento dos ventrículos mecânicos produzidos por nós visando melhorar seu desempenho. Ao mesmo tempo, o laboratório de controle da coagulação sangüínea está sendo mais bem equipado para permitir adequado controle dos pacientes a serem operados".


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